Patricia Finotti

Obrigatório por lei desde 2014, o exame é realizado no Hospital Materno Infantil de Goiânia e funciona como um aliado para combater problemas na amamentação

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A língua presa é uma alteração comum presente em alguns bebês desde o nascimento que pode perdurar toda a vida. A má-formação na boca ocorre quando uma pequena porção de tecido, que deveria ter desaparecido durante o desenvolvimento do bebê na gravidez, permanece na parte inferior da língua, limitando seus movimentos. Uma das consequências mais conhecidas é a dificuldade em reproduzir alguns fonemas como T, D, Z, S, N e L. Contudo, o que nem todos sabem é que a consequência da alteração no frênulo não se resume à complicação na fala.

 Os bebês que nascem com essa alteração sofrem dificuldades ainda na mamada. A criança mama pouco e não consegue sugar e sustentar de maneira adequada no seio o que, muitas vezes, acaba levando ao desmame precoce. Casos assim não são incomuns. Por essa razão, desde 2014, o Hospital Materno Infantil (HMI) e a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, bem como outros hospitais e maternidades das redes públicas e privadas, são obrigados a fazerem o chamado teste da linguinha em recém-nascidos, determinação da Lei 13.002/2014 (que obriga a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês). O objetivo da observação é detectar se existe alguma alteração no frênulo, membrana que liga a língua à parte inferior da boca.

 A fonoaudióloga do HMI de Goiânia, Giuliana Caetano Borges, explica que o exame deve ser feito o mais cedo possível para evitar dificuldades na amamentação, possível perda de peso do recém-nascido e, principalmente, o desmame precoce. O teste deve ser realizado por um profissional capacitado, de preferência um fonoaudiólogo, nas primeiras 48 horas de vida neném. “Com base no protocolo de avaliação padronizado idealizado pela fonoaudióloga brasileira Roberta Martinellii, o profissional avalia se há alteração por meio da observação direta do frênulo; da postura da língua durante o repouso, no choro; também pela sucção não nutritiva, que consiste no dedo mínimo enluvado na cavidade oral do bebê; além da sucção nutritiva, ou seja, o bebê sugando diretamente no seio materno. Caso haja dúvida, a análise é repetida 30 dias após o nascimento da criança”, esclarece Giuliana.

No HMI, o exame é realizado diariamente desde 2014, quando o teste passou a ser obrigatório e a conscientização a respeito de seus benefícios ganhou destaque. Até agosto de 2016 foram realizadas pela equipe de fonoaudiólogas da unidade aproximadamente 2100 avaliações, média de 270 por mês. Desse número, cerca de 3% de bebês apresentaram alterações no frênulo lingual. “Quando o neném possui essa característica em um grau mais significativo, o tratamento adequado é a frenotomia, procedimento realizado por pediatras e odontólogos, que consiste na separação, por meio de um corte que não causa dor, da membrana que está impedindo o movimento normal da língua”, explica a fonoaudióloga Giuliana. Em alguns casos mais simples de alteração do frênulo, todavia, com a orientação da fonoaudióloga, é possível corrigir o padrão de amamentação com exercícios e adequação da pega da mama.

 Sobre o protocolo – O Projeto de Lei nº 4.832/12, de autoria do Deputado Federal Onofre Santo Agostini (PSD-SC), que “obriga a realização do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês, em todos os hospitais e maternidades do Brasil”, foi sancionado pela Presidência da República e se converteu na Lei nº 13.002, de 20 de junho de 2014.

O protocolo de avaliação do frênulo da língua para bebês foi desenvolvido durante o mestrado da Fonoaudióloga Roberta Lopes de Castro Martinelli na Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo. Com a sua aplicação é possível identificar se o frênulo lingual limita os movimentos da língua, que são importantes para sugar, mastigar, engolir e falar.

Pesquisas em todo o mundo têm comprovado a importância do diagnóstico e intervenção precoce dessa alteração. Com a aprovação dessa lei, o Brasil torna-se o primeiro país a oferecer esse teste em todas as maternidades, abrindo mais um campo de atuação para os profissionais da saúde e beneficiando a população.

Número de ocorrências – Um estudo realizado em 2013, na Universidade de São Paulo, encontrou uma ocorrência de 22,54% de alterações do frênulo lingual em bebês. Isso significa que a cada 10 mil crianças nascidas, 2254 têm a popular língua presa, sendo muito frequente no período neonatal, superando inclusive as patologias encontradas pelo Teste do Pezinho e da Orelhinha. Por todas essas razões, é muito importante a realização do Teste da Linguinha, preferencialmente durante o primeiro mês de vida.

Passo a passo para a realização do teste – O Protocolo de Avaliação do Frênulo Lingual é dividido em história clínica, avaliação anatomofuncional e avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva, com pontuações independentes e pode ser aplicada até o 6º mês de vida.

Primeiramente deve posicionar adequadamente o bebê. Para isso, é solicitado que a mãe ou responsável apoie a nuca do bebê no espaço entre o braço e o antebraço. Em seguida, o profissional requer que a pessoa segure as mãos da criança. O segundo passo consiste em elevar a língua do neném utilizando uma manobra específica onde são introduzidos os dedos indicadores enluvados embaixo da língua, pelas margens laterais, para que se possa fazer a elevação. É preciso tomar muito cuidado para não abrir exageradamente a boca do bebê e, eventualmente, prejudicar a articulação da mandíbula. (HMI Comunicação)

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