Patricia Finotti

(crédito: arquivo Rejane Damaceno)

Carla Lacerda

Conheça a história da goianiense Rejane Damaceno, que encontrou no esporte o caminho prazeroso para enfrentar um quadro depressivo e superar pensamentos de suicídio

 

“29 de agosto de 2020: o dia em que eu decidi dar um fim à minha vida”. A frase é da terapeuta ocupacional Rejane Damaceno, 37 anos, que resolveu quebrar o silêncio e falar sobre um assunto que ainda é tabu, mesmo no mês dedicado a um processo de conscientização com alcance global, o setembro amarelo. 

“Quando, em uma palestra, percebi que minha história poderia alertar sobre os sinais de suícidio e, principalmente, sobre as formas de prevenção, sabia que não poderia ficar calada”, confidencia ela. A partir deste momento, a profissional, que se tornou especialista em saúde mental, já intuía que um dos momentos mais sofridos e intensos que passara precisaria romper a bolha da privacidade para, na esfera pública, contribuir com a vida de outras pessoas. E assim aconteceu.

“Eu estava num quadro de depressão e, na minha lista de coisas a fazer antes de morrer, estava saltar de paraquedas. Pensei, então, que esse seria o plano perfeito: eu iria ter a experiência e, como não achava que o esporte fosse seguro, imaginei que o equipamento falharia e as pessoas pensariam que teria sido um acidente”, conta.

Do alto do avião que sobrevoava Anápolis – ela procurou um centro de paraquedismo no município – e toda paramentada com uniforme e itens de segurança, Rejane ainda não imaginava o que estava prestes a acontecer. “Quando eu comecei a queda livre, em menos de um segundo, eu senti que estava voando; foi a melhor sensação da minha vida, de liberdade, de ver o mundo”, relata. “Ao ver aquele céu azul, pensei: meu Deus, que coisa perfeita, nós não somos nada diante da grandeza de Deus”.

O êxtase não se limitou ao salto; ao pousar, a adrenalina estava tão alta, tão alta que a terapeuta ocupacional só tinha uma certeza – aliás, duas – naquele momento: queria viver e queria fazer isso mais vezes. “Comecei o curso de paraquedismo e o esporte mudou a minha vida: emagreci 20 quilos, meu trabalho deslanchou, minha vida pessoal melhorou, é incrível! Eu digo que o paraquedismo salvou a minha vida. Eu renasci no meu primeiro salto”.

Campanha

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), realiza no Brasil a campanha Setembro Amarelo, com o objetivo de prevenir e reduzir os números de suicídio. A iniciativa chega em seu oitavo ano, com um novo mote: “A vida é a melhor escolha”. A campanha é promovida durante todo o mês, mas 10 é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio

Para lembrar a data em Goiás, Rejane Damaceno lançou o projeto “Um salto para a vida”, que visa chamar a atenção para o tema e conscientizar as pessoas sobre os números impactantes da atualidade. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), são computados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar os episódios subnotificados – com eles, a estimativa extrapola 1 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.

No último dia 4 de setembro, 14 pessoas saltaram de paraquedas, em Anápolis, e formaram um laço no ar em alusão ao símbolo do Setembro Amarelo. Em Dubai, um amigo da terapeuta ocupacional também fez o mesmo, portando uma bandeira do projeto.  

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