Patricia Finotti

(crédito: Talis Martins)

Ana Paula Mota

A apresentação de uma poesia corporal em forma de banho de ervas promete uma reflexão sobre a cura do corpo e da alma através de plantas e conhecimentos negros ancestrais

Na quinta-feira, dia 04 de julho, a partir das 19h, a Exposição Matriarcas, da artista visual Raquel Rocha, que acontece desde maio no Centro Cultural Octo Marques, terá uma ação especial, gratuita e aberta ao público em geral. Trata-se da Poesia-performance “Abô”, uma representação do preparo e da realização de um banho de ervas segundo a cultura yorubá. O evento é uma realização do Orum Aiyê Quilombo Cultural e este projeto foi contemplado pelo edital de fomento ao artesanato do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2023. 

A obra performática é inspirada na série de obras visuais “Orixás entre traços e versos”, que compõem a exposição “As Matriarcas”. A encenação se baseia também na transmutação da palavra para o corpo, a partir do poema de Raquel Rocha, de seu livro homônimo à série de obras em exposição. Desta forma, a performance tem como fonte alimentadora a poesia realizada em homenagem ao Orixá Ossain, o Senhor das Ervas, na qual a artista se desdobra sobre o fazer e o sentir de um banho de erva. 

Segundo Rachel Rocha, que junto com Marcelo Marques realizam a performance, “Todo o universo místico que é construído vinculado à produção desse banho de erva, que em yoruba se chama ‘Abô’, busca trazer as pessoas que observam para um universo ritualístico de reencontro com nossa ancestralidade preta, que devido ao racismo religioso sofreu um grande afastamento do uso das ervas para a cura do corpo e limpeza espiritual.”

As plantas dos nossos quintais e a cura do corpo e da alma

Segundo a criadora, a performance tem o propósito de aproximar o público desse universo das plantas medicinais, que também são utilizadas na cultura yorubá para a cura espiritual. Ervas que por vezes estão acessíveis no jardim de nossas casas, nas calçadas das ruas, mas que não estão mais no conhecimento de muitos devido a esse afastamento de uma cultura ancestral. 

Raquel Rocha ainda explica como ocorre a apresentação: “A performance se baseia no macerar das ervas e no entoar das cantigas referentes a  cada folha, na língua yoruba. Dessa forma dizemos que encantamos as plantas, já que na cultura de candomblé tudo é cantado e encantado por meio das palavras. Após a maceração, alguém da plateia é convidado para participar, recebendo o banho. Ao final, o público pode levar um pouco do banho para casa e depois utiliza-lo como processo de reencontro, por meio de um cuidado espiritual afrocentrado.” 

“Abô”, que é o nome que se dá ao banho de ervas na cultura yorubá, é também o nome da performance que tem como elenco a artista criadora Raquel Rocha e o artista e produtor Marcelo Marques. O evento é uma realização do Orum Aiyê Quilombo Cultural e este projeto foi contemplado pelo edital de fomento ao artesanato do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2023. 

“Matriarcas” segue em exposição até 14 de julho 

Com a curadoria de Divino Sobral, as pinturas feitas em cestas de palha, ornadas com 16 búzios, fazem referência ao jogo do merindilogun, conhecido como jogo de búzios, desenvolvido pelas Mães de Santo no Brasil. Estes são os trabalhos que  integram a exposição “As Matriarcas”, da artista visual goiana Raquel Rocha. A artista, também candomblecista iniciada há sete anos, expressa por meio do trabalho artístico a importância das matriarcas do Candomblé na manutenção histórica cultural dos negros no Brasil. A exposição acontece desde maio, na galeria Sebastião dos Reis, no Centro Cultural Octo Marques, e segue até o dia 14 de julho.

Sobre Raquel Rocha, a artista

Raquel Rocha se alimenta do axé das matriarcas ao criar um série histórica de pinturas, um livro de poesias e desenhos, e uma performance em forma de banho de ervas, para um projeto que marca a importância do seu trabalho que, além de ser afro referenciado, fortalece o combate ao racismo, desconstrói conceitos ignorantes que sustentam a intolerância afro religiosa e lança luz sobre a importância da mulher negra na história da sociedade brasileira. “A Série ‘As Matriarcas’ e a performance ‘Abô’ são fruto da vida de uma mulher negra candomblecista nascida e criada em Goiânia, cidade que ainda hoje ostenta como herói a estátua  de um Bandeirante representante maior do genocídio e do latrocínio perpetuado na terra brasilis”, comenta Marcelo Marques, produtor executivo da exposição e co-fundador do Orum Aiyê Quilombo Cultural. 

Serviço:

Performance “Abô” da artista visual Raquel Rocha

Data:  04 de julho – 5ª feira

Horário: 20h

(OBS: a exposição também estará aberta normalmente, das 9h às 17h)

Local: Galeria Sebastião dos Reis, Centro Cultural Octo Marques.

Entrada franca

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