Patricia Finotti

(ilustração: Marilda Rodovalho)

Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar)

 

Curiosidade foi algo que sempre me moveu. Curiosidade em aprender, em sentir, experimentar, ver e ouvir coisas novas, para então refletir a respeito, analisar e decidir por mim mesma se gostava ou não, se valia apena ou não, se era bom ou não. O que não significa que em algum momento eu tenha desprezado a sabedoria de um conselho sobre algo perigoso, principalmente vindo de fonte que julgava confiável. Então não, nunca me aventurei em experimentar coisas que colocassem em risco minha saúde, minha segurança, ou tirassem de mim o controle sobre meus próprios atos.

Minha curiosidade creio estar relacionada a minha visão, que de algum modo sempre esteve em mim, de que essa vida é uma grande escola e de que nosso papel aqui é aprender, crescer espiritualmente e então retornar para o nosso verdadeiro lugar. De qualquer modo, essa disposição em aprender e apreender o mundo que me cerca me ajuda a manter minha mente aberta ao novo, às mudanças, ao agora. Ainda que por vezes possa me frustrar, afinal nada é perfeito, ainda bem.

Recordo de há alguns anos, em uma reunião pedagógica, daquelas em que fazemos dezenas de dinâmicas em grupo, muitas delas constrangedoras e ridículas, haver uma que apreciei e que, por ser um colégio dito religioso, terminou perguntando a cada um o que pediria a Deus, se pudesse lhe fazer apenas um pedido. Meu pedido não foi complicado como “a paz mundial’, visto que não acredito ser possível, pois Ele teria que retirar de nós nosso livre-arbítrio para conseguir convergir tantos conflitos, tão pouco algo mundano como riquezas, pois não o insultaria comparando-o ao gênio de Aladim.

Pedi que ele conservasse em mim a capacidade de continuar vendo o mundo com os olhos de uma criança, que se deslumbra diante de tudo, pois a vê pela primeira vez. Sim, é como eu vejo o mundo que me cerca, como se o olhasse, todas as manhãs pela primeira vez; como se cada flor fosse a primeira e cada canto de pássaro fosse o primeiro a penetrar os meus ouvidos e cada “arte” do meu cachorro fosse a primeira, então motivo de riso, nunca de surras; talvez uma repreensão. Não me importo que o tempo passe, pois sempre é novidade para mim, na minha perspectiva.

Primeira vez de um encontro feliz, ou de uma despedida triste, tanto faz, pois é a emoção que me inunda que conta. O encantamento é sempre novo, mágico, por mais que tenha se repetido ao longo dos anos, não se torna rotineiro, cansativo, e há sempre lugar para o realmente novo, para descoberta. Se a experiência é boa, vale a pena revivê-la, se não, deixa pra lá e siga em frente, sem se deter em remoer velhos rancores, aborrecimentos passados, tristezas já choradas. A vida anda para frente.

Então, quando chegar a hora de partir, e inevitavelmente ela chega, vou para o outro lado cheia de vontade de continuar aprendendo, levando comigo tudo o que ganhei aqui, nos… espero que pelo menos 85 anos de primeiros dias.

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