Após nove dias de exibição online e gratuita de 70 curtas e longas-metragens de 18 países, a CRASH – Mostra Internacional de Cinema Fantástico anuncia os melhores filmes da sua 13ª edição em quatro categorias: curta-metragem nacional, curta-metragem internacional, longa-metragem e, pela primeira vez, melhor animação. Neste ano, foram eleitas três produções brasileiras e uma russa. Considerado marco do audiovisual goiano, o festival realizado pela MMarte Produções aconteceu de 09 a 17 de dezembro, com uma programação inteiramente dedicada ao cinema de gênero, que contempla fantasia, horror, ficção científica e afins.Além da mostra competitiva de longas e curtas-metragens, a 13ª CRASH foi marcada pela live de pré-lançamento do livro “Uma Introdução ao Cinema Underground Americano”, com participação do escritor norte-americano Sheldon Renan, e pelo lançamento virtual da HQ CRASH 13, criada pelo quadrinista e artista gráfico Law Tissot e pelo idealizador da mostra Márcio Júnior. Esta edição também conta com a Mostra Les Diaboliques: Diretoras de horror 1980-1999, que segue até 26 de dezembro com a exibição de 20 longas-metragens de horror, dirigidos por 14 diretoras pioneiras do gênero nos Estados Unidos nas décadas de 1980 e 1990. A curadoria é da pesquisadora e crítica Beatriz Saldanha.
Os quatro melhores filmes da 13ª CRASH foram escolhidos por um júri formado por Geórgia Cynara, doutora e pós-doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e professora do curso de Audiovisual e Cinema da Universidade Estadual de Goiás (UEG); Luciano de Miranda, realizador independente, criador da Crânio Fitas e do Cine Crânio, cineclube com sede em Matão, interior de São Paulo, e conhecido pelos curtas “Peso Morto”, “C.H.U.P.A.” e “A Grande Piada”; e Thaís Vieira; cineclubista, pesquisadora e realizadora audiovisual.
Melhor longa-metragem
O prêmio de melhor longa-metragem foi concedido ao filme brasileiro A Cidade Dos Abismos, de Priscyla Bettim e Renato Coelho. O enredo traz Glória, mulher trans, Bia, jovem da classe média paulistana, e Kakule, imigrante africano, que testemunham uma morte brutal na véspera do Natal. O evento, vivenciado num bar decadente da capital paulista, muda o destino de suas vidas. Embora mal se conheçam, uma aliança é formada ali. Indignados com os rumos da investigação do crime, os três se recusam a ceder à injustiça e decidem ir atrás dos algozes. No filme, a inevitável descida ao inferno é permeada pela amizade e pelo afeto. E as utopias continuam vivas mesmo quando o corpo padece.
Segundo a defesa apresentada pelo júri de premiação, a escolha teve como base aspectos como o “contraponto da crueza das imagens com a beleza da poesia não piedosa de marginais como Roberto Piva, na evocação de tempos memoráveis do cinema brasileiro, em especial o praticado na Boca do Lixo, em São Paulo, e o cinema experimental de Maya Deren sem cair no clichê das referências perdidas”. E ainda “a exploração magistral do conceito baixo/cima; a expressão do desespero da metrópole, e ao mesmo tempo, do amor, amizade e apoio entre os excluídos; as experimentações estéticas, poéticas e sensoriais do cinema de invenção; e o final apoteótico, reafirmando que a cidade é do povo”.
Melhor curta-metragem estrangeiro
Já o melhor curta-metragem estrangeiro da 13ª CRASH foi a produção russa Eva Wakes Up, de Daria Verevkina. O filme traz a história da garotinha Eva, que ficou sozinha na cidade durante a Guerra e tenta escapar da realidade no mundo dos sonhos e fantasias, onde seu falecido pai -parecendo um vampiro – tenta proteger sua mente dos horrores da guerra. “Pelo sensível retrato da guerra, evocando/subvertendo o mito do vampiro. Pela homenagem aos clássicos do horror por meio de um cinema artesanal de rico repertório, concedemos o Prêmio de Melhor Curta-Metragem Estrangeiro a Eva wakes up”, defendeu o júri de premiação.
Melhor animação
Este foi o primeiro ano que a CRASH criou uma categoria específica para eleger a melhor animação da Mostra e quem estreou a lista de premiados foi o curta-metragem brasileiro Barbara Balaclava, uma metanarrativa baseada nas histórias existentes na obra de Thiago Martins de Melo e lidas no tarô. Em uma narrativa anarco-xamânica da transcendência da luta anticolonialista, o filme percorre a trajetória de uma mártir anônima desde a expropriação e massacre de sua aldeia e sua morte sob tortura policial até sua experiência como “encantada” encontrando-se em uma encarnação anterior e culminando em seu batismo no coração de Pindorama. A decisão do júri foi motivada pela expressão da fúria da revolta em estado bruto, pela denúncia da violência do poder contra o povo brasileiro e pela convocação à resistência por meio das impressionantes pinturas que compõem o filme.
Melhor curta-metragem brasileiro
Por fim, quem conquistou o título de melhor curta-metragem brasileiro na 13ª CRASH foi Ex-Humanos, de Mariana Porto. A produção traz a história de um jovem e uma mulher que planejam a sobrevivência da humanidade no novo império brasileiro. “Pela abordagem distópica e ao mesmo tempo sensível de temas como a memória, a morte, a sensibilidade e tudo que nos torna humanos. Pela crítica à desumanização, à escravização do tempo e da consciência humana em benefício de um sistema abstrato e vigilante. Pelo trabalho impressionante da direção de arte, da atuação, da fotografia e da direção no tratamento dado ao filme, concedemos o prêmio de Melhor Curta-Metragem Brasileiro a Ex-humanos”, justificou o júri.