Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar)
Quando minha sobrinha estava com cinco anos, tinha o hábito de arrancar as folhas das árvores e arbustos por onde passava. Por mais que sua mãe, avó ou eu lhe chamássemos a atenção, bastava ver uma planta toda verde e bonita e lá estava a pequena lagarta a depená-la sem motivo.
Então, um dia, ao vê-la fazendo isso, imediatamente fui até ela e lhe puxei os cabelos, o que provocou um pequeno grito, mais pela surpresa que por dor, afinal não foi um “puxão” de cabelos que pudesse arrancar fios. Nesse momento olhei duramente para ela e perguntei se havia doido, o que ela prontamente respondeu que sim, como qualquer criança faria. Séria, me abaixei a sua frente e disse, “Pois, é, a plantinha também sente dor quando você arranca suas folhas.” Me lembro de seus grandes olhos castanhos me olhando com surpresa como se eu acabasse de lhe contar um segredo, algo que ela desconhecia; a partir daí, não houve mais nenhum caso de folhas arrancadas por aquela lagartinha.
O que quero dizer é que minha pequena compreendeu, de um modo bem simples, que tudo o que existe nesse mundo e vive também sente dor, fome, frio e pode morrer se maltratado. Todos os seres vivos têm as mesmas necessidades vitais, sofrem e merecem respeito. Independente de ser humano, animal ou vegetal, compartilhamos esse mundo com outras espécies e devemos a elas respeito e dignidade, pois estamos todos ligados em um único sistema de energia vital e o que afeta a um, afeta a todos, de um modo ou de outro.
Não adianta a presunção de que,” por sermos os mais inteligentes do planeta”, temos o direito de dispor dele a nosso bel prazer, pura tolice. Sabemos hoje que inteligência se manifesta de diversas formas, fala-se agora em inteligências, no plural, pois o tal raciocínio lógico não é o único, tão pouco o mais importante. Muitas espécies sobreviveram a muito mais catástrofes e transformações em nosso planeta que nós, contando com bem menos capacidade “racional” que a nossa, para então serem extintas por aquele que, sendo tão inteligente, deveria buscar uma maneira de viver em harmonia com todos, ao invés de, em arroubos de puro orgulho e imbecilidade, sair por aí acabando com tudo apenas para se auto afirmar.
Cabe aqui uma distinção que para min é fundamental, podemos até ser os mais inteligentes, o que sinceramente duvido, mas certamente não somos os mais sábios. Inteligência e sabedoria são coisas distintas e na maioria das vezes não caminham juntas. É preciso muita inteligência para se criar uma bomba atômica, não há dúvida; mas muito mais sabedoria para saber que cria-la é uma grande tolice. Infelizmente, a maioria das pessoas faz opção pela inteligência, sem perceber que será a falta de sabedoria a nossa ruina.
Nesse ponto, volto aos animais, plantas e todos os outros seres vivos com os quais compartilhamos esse mundo. Se conseguem viver em harmonia uns com outros, sem destruir o planeta que lhes dá sustento, sem ameaçar sua própria existência, não serão mais sábios que nós? Alguns dirão que é apenas instinto de sobrevivência, que não há inteligência ou raciocínio envolvido, e novamente pergunto, “do ponto de vista de quem?” Quem nos arvorou do poder de decidir sobre esse planeta? Desculpem, mas se disserem que foi Deus devo dizer que discordo. Deus criou o homem e tudo o mais que habita esse mundo, portanto somos todos suas criaturas e, portanto, recebemos o mesmo amor e cuidado. Não acredito que Ele, em sua sabedoria, nos tenha dado o comando sobre a vida e morte do restante de sua criação.
Como disse antes, somos todos iguais, a mesma energia; o que afeta a um afeta a todos, de um modo ou de outro. a destruição de florestas e outros ecossistemas, catástrofes climáticas, aumento de doenças pandêmicas e da fome que o digam. O nosso mundo é um só, somos um só e grande organismo vivo e simbiótico, ou se preferirem uma só energia navegando em ondas ao redor desse “pequeno círculo azul”. Se conseguirmos entender isso, talvez haja uma chance para nós, “os seres mais inteligentes do planeta”; se não, com certeza os outros continuarão sem nós quando tivermos cumprido nosso ciclo.