Falar é a melhor solução. Esse é o tema da campanha “Setembro Amarelo”, movimento de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que tem como intuito alertar a população sobre o aumento do ato no Brasil e no mundo e as formas de prevenção. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos suicídios podem ser evitados. No Brasil, uma pessoa se mata a cada 45 minutos, enquanto outras 60 ao menos tentam tirar a própria vida. Diante desse fato preocupante, o Hospital Materno Infantil (HMI), por meio do Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (Sesmt), promoveu nos dias 20 e 21 de setembro (terça e quarta-feira), palestras sobre o assunto para os funcionários e colaboradores da unidade e do Hospital e Maternidade Vila Nova (HMVN), que conta com 28 leitos que funcionam como retaguarda para o HMI.
Durante a palestra do primeiro dia de programação, a psicóloga Fernanda Fleury, que faz parte da equipe do Serviço Social do Comércio (Sesc), dissertou sobre fatores emocionais que levam ao adoecimento, mostrando algumas situações que podem resultar num desequilíbrio entre as demandas do trabalho e a capacidade de resposta do trabalhador. “O adoecimento pode ser uma consequência do ambiente físico ou ritmo acelerado. No entanto, não é um fator isolado. O estresse, a ansiedade e outros conflitos geram mecanismos sintomáticos como a diminuição da concentração, criatividade prejudicada, angústia, depressão, fadiga mental e o uso de entorpecentes causam graves distúrbios no sistema imunológico, como a depressão, levando ao caminho do suicídio”, detalhou.
Ainda segundo Fernanda, não há muitos estudos que abrangem sobre quais distúrbios afetam mais os trabalhadores na área da saúde, uma vez que eles não são ouvidos ou têm dificuldade de admitir uma doença, mesmo sendo conhecedores de grande parte das patologias e seus riscos. Para a auxiliar de enfermagem do HMI, Rosilene Brandão, fazer esse tipo de abordagem é de suma importância para todos os participantes, ainda mais sobre um assunto que precisa ser discutido abertamente. “É preciso falar sobre depressão e suicídio sim. Muitas vezes temos pessoas próximas que dão sinais de que estão precisando de ajuda e nós não vemos ou não podemos ajudar. Nós, trabalhadores, precisamos disso, pois temos colegas que estão nessa situação e precisamos saber trabalhar uma forma de ajudar e prevenir que a situação piore”, afirmou.
Uma das maneiras de ajudar àqueles que estão enfrentando alguma dificuldade e pensando em desistir de tudo é por meio do Centro de Valorização à Vida (CVV), criado há 37 anos em Goiânia. Os voluntários Aldemir Rodrigues dos Santos e Maria de Jesus destacaram na palestra realizada na quarta-feira (21 de setembro) que o objetivo principal da entidade é conversar e acolher a quem precisa. Por ano, são atendidos cerca de 1 milhão de chamados, através do telefone, mídias sociais e até pessoalmente. “Temos casos de pessoas que ligam todos os dias, várias vezes por dia. Porém, a cada contato desta determinada pessoa, tratamos como se fosse um chamado novo, pois mantemos a individualidade do caso e, na maioria das vezes, ela mesma consegue enxergar as saídas para aquele determinado problema que está relatando”, contou Aldemir.
Segundo os palestrantes, ministrações de esclarecimento, o uso de novas tecnologias, melhorias na organização do trabalho, execução de ações e atividades que busquem identificar e lidar de forma positiva com os agentes estressores, além da instituição de laços sociais/profissionais são formas de discutir a promoção da saúde, algo que a maioria dos trabalhadores da área assistencial precisa. “O nosso ambiente de trabalho é extremamente pesado. Diariamente temos que lidar com diferentes tipos de situações que nos deixam totalmente desestabilizados e, na maioria das vezes, adoecemos não só o físico, mas o emocional também. E, como mascaramos o que nós estamos sentindo para não preocupar o próximo, não permitimos ser ajudados e não oferecemos ajuda”, salientou a coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI) do HMVN, Fernanda Monteiro. Já Patrícia Almeida, que também é coordenadora administrativa da mesma unidade, lembra que o importante é “saber olhar e realmente ver o trabalhador, focando o trabalho no bem estar de cada um e, assim, amenizando essa dor que ele está sentindo”, concluiu. (Bastidores da Comunicação)