Não me lembro se eram seis ou sete anos que eu tinha na época, mas não passava disso. Pequena, pela primeira vez viajava sem meus pais, apenas com minha tia. Íamos para Anápolis, cidade onde ela morava; creio que passaria o fim de semana, ou até o fim da semana, quando então meus pais viriam visitar minha avó (compromisso sagrado e que se repetia no mínimo a cada quinze dias), e então eu retornaria a Goiânia com eles.
O fato é que naquela época o ônibus de Goiânia parava na antiga rodoviária de Anápolis, e de lá subíamos uma ladeira até a casa onde minha tia morava em um quarto alugado. Acho que não era longe, embora na época parecesse bem distante para as pernas curtas de uma menina que nunca foi grande em tamanho. Não reclamava, a alegria por estar ali, a excitação pelo inusitado do passeio me faziam mais tagarela que o costume e eu falava sem parar, pulando de um assunto a outro sem dar tempo a minha tia de responder.
O sol já começava a baixar e não fazia calor, o tempo estava agradável. Subíamos a ladeira entre risos e conversas, eu a frente, dando pequenos saltos e sempre me virando para falar com minha tia que sozinha trazia as malas. Foi então que surgiu, após uma curva, a visão que me tirou o folego e as palavras. De repente, ali estava, como uma pintura, uma obra prima, um terreno cheio de flores, pequenas flores amarelas; tantas que se sobrepunham e cobriam todo o terreno, um lote baldio.
O sol refletido naquele amarelo que parecia um tapete, encheu-me de tal modo os olhos que parei extasiada, muda; me lembro de ter ficado assim alguns instantes antes de perguntar a minha tia quem havia plantado aquelas flores, aquele jardim tão lindo. Ela riu, e disse que ninguém havia plantado aquilo, que aquelas flores haviam nascido ali simplesmente, eram um tipo de mato e aquilo era só um lote baldio e que aquilo era obra de Deus.
Naquele momento, minha mente de criança, deslumbrada diante da beleza das flores, chegou a sua primeira conclusão. Deus é um jardineiro e a felicidade é um campo de flores amarelas.