Mariza Sabino
A Estação Ferroviária de Goiânia foi a fonte de inspiração para oito futuros estilistas que compuseram looks exclusivos e que trazem várias referências do prédio construído na década de 1950. As roupas farão parte de uma exposição que integrará a programação do Goiânia Art Dèco Festival 2019, que será realizado de 27 agosto a 1º de setembro
Pode arquitetura inspirar a moda? Sim, e oito novos talentos do design de moda em Goiás demonstraram isso na prática. Tendo a antiga Estação Ferroviária de Goiânia como fonte de inspiração, participantes da 1ª edição do Desafio Viver de Moda compuseram looks exclusivos que trazem várias referências do prédio em estilo Art Dèco, localizado na região central da capital e construído nos anos 50.
As oito peças de vestuário selecionadas no concurso de moda integrarão uma exposição que fará parte da 2ª edição do Goiânia Art Dèco Festival 2019, que será realizado de 27 de agosto a 1º de setembro, no campus da capital do Instituto Federal de Goiás (IFG). As peças desenhadas e confeccionadas pelos futuros estilistas foram apresentadas oficialmente durante o desfile que encerrou a programação do 1ª VDM Day, evento de moda realizado na última terça-feira (20/08), no Estação da Moda Shopping
De acordo com a designer e professora de moda Nélia Finotti, responsável pela orientação técnica aos candidatos que tiveram seus trabalhos selecionados no Desafio Viver de Moda, as modelagens autorais que resultaram nos oito looks usaram como referência as cores principais do prédio, texturas da fachada e até a iluminação que o monumento recebe do sol. “Os traços, as cores e texturas que compõem o conjunto paisagístico da antiga Estação Ferroviária, um cenário que guarda especial importância histórica para a capital, foram traduzidas em design de moda”, explica a designer.
Outro destaque é que as roupas foram confeccionadas de forma sustentável, com uso de materiais reaproveitados. “As peças compunham uma coleção com inspiração no monumento histórico, sem perder a essência da criação de cada um. As principais referências utilizadas foram os elementos gerais da Estação Ferroviária como os trilhos, a Maria Fumaça, o relógio, os detalhes da estrutura como os vidrilhos que foram representados por patchwork e até, a fase da recente reforma pela qual o cartão postal passou, com a representatividade dos tijolos e tintas”, explica as professora.
As cores predominantes nas produções foram o amarelo, que representa a cor da Estação Ferroviária, e o azul, que se refere ao céu, e também em referência ao jeans, que no passado era de uso exclusivo de operários. A professora de moda conta que, apesar de ser um concurso, o espírito era de colaboração durante as oficinas de execução das peças. “Não existia competição entre eles. Todos se ajudavam e um complementava o trabalho do outro”, lembrou Nélia após os desfile.
Emoção
A costureira Dora Lucena foi um dos oito selecionados no Desafio Viver de Moda. Sem segurar sua emoção por fazer sua estreia como estilista aos 53 anos de idade, ela disse que a comoção foi ainda maior, pois foi prestigiada no evento por seu pai Eusébio Lucena, de 93 anos , que veio da cidade mineira de Uberlândia para assistir o desfile em Goiânia. Dora destacou que sua participação no concurso promovido pelo Blog Viva de Moda é o pontapé inicial em sua nova fase profissional. “Foi a primeira vez que tive a oportunidade de executar do início ao fim a minha criação e estou muito realizada. Superei a mim mesma e agora estou mais segura do meu trabalho e onde quero chegar”, afirma a costureira que quer ser estilista.
Para Sheila Gies, PhD em Design de Moda e uma das convidadas especiais para o 1º VDM Day, as peças apresentadas pelos selecionados no desafio de moda foram uma retratação criativa e bela da história goiana. “O que mais me emocionou foi ver, por meio da apresentação, a moda valorizando a nossa trajetória. A Estação Ferroviária de Goiânia, um ícone da nossa história, foi mostrada com tanta qualidade e criatividade. É um passo significativo e inovador ter a continuação da cultura goiana expressa pela moda”, declarou a especialista durante o desfile.
Um dia de moda
Antes do desfile que marcou a estreia de novos talentos do design e moda , o 1ª VDM Day ofereceu ao longo de todo o dia uma variada programação de workshops e outras atividades voltadas à capacitação de quem trabalha ou tem interesse no mundo da moda. Mini cursos ministrados por especialistas em design, produção, distribuição e divulgação de moda, o evento movimentou um enorme público no Estação da Moda Shopping.
As atividades gratuitas oferecidas pelo VDM Day foram abertas a estudantes, profissionais ou amantes do mundo fashion. O evento foi uma realização da loja Republica da Moda, futura loja de atacado do Estação da Moda que será inaugurada neste ano. A primeira edição do VDM Day contou com patrocínio da Abelha Rainha cosméticos, restaurante Dom Goiano e CNW eventos e apoio do Estação da Moda Shopping, Faculdade Estácio de Sá de Goiânia, Espaço Integrado de Moda, Hotel Go Inn, Senac e agência Mega Models de Goiânia.
Looks
Estruturas do tempo
Desde muito pequena a jovem stylist Alessandra Dias, 24 anos, desenhava e criava seus próprios looks. Formada há três anos em designer de moda, teve como inspiração para desenvolver a sua peça denominada “Estruturas do tempo”, a arquitetura da Estação Ferroviária de Goiânia, trazendo o plissado da saia que simboliza os detalhes da fachada e para a parte superior, a estrutura do relógio.
TUA
“Tome uma atitude” (TUA) é o nome da criação da goiana Carolina Oliveira, 33 anos, que desde pequena respira moda. A designer de moda é formada na Espanha e inspirou o seu look na vontade de combinar estilo, moda étnica e meio ambiente. Ela usou as texturas como trilhos, portões e azulejos. As cores vêm da cor original da Estação Ferroviária e a pedraria remete principalmente os pontos do relógio e o busto nos trilhos da Maria Fumaça.
Através do tempo
Tendo no sangue a paixão pela costura, Dora Lucena, 53 anos, é mineira de Uberlândia, há adotou Goiânia como seu lar. A costureira que quer virar estilista se inspirou na infraestrutura da Estação Ferroviária de Goiânia para desenvolver sua peça denominada “Através do tempo”, um vestido feito no jeans que carrega formas geométricas e que tem uma cartela de cor variada: branco, amarelo ouro e preto. A silhueta da cintura marcada faz a marcação do tempo.
Formas do tempo
Amante dos traços no papel, o estudante de moda da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Paulo Cariolano, 21 anos, desenvolveu uma peça em um só tom, o amarelo. Inspirado nas linhas e formas da arquitetura Art Déco que a Estação Ferroviária, com foco nas linhas retas e firmes, que podem ser encontradas em toda a silhueta do monumento. Denominada “Formas do tempo”, Paulo quis valorizar a “arquitetura mãe”, trazendo para a peça um estilo elegante, funcional e ultramoderno.
Reconstrução
O jovem estilista, Antônio Alvbar, 29 anos, costura desde os 10 anos de idade. Inspirado nas linhas, formas, texturas e cores da Estação Ferroviária de Goiânia, Antônio trouxe para a modelagem as formas do monumento com destaque ao relógio na forma de estampa e ponta destaque do vestido. Intitulada de “Reconstrução”, o vestido que tem como destaque a cor amarela, está relacionada aos sonhos que são deixados de lado.
Viés do tempo
Hecto Alan, 23 anos, se interessou pela moda muito cedo, ainda na infância onde começou a se vislumbrar com as mensagens e histórias que as roupas passam e a partir desse olhar, ele desenvolveu sua peça inspirada principalmente no relógio da Estação Ferroviária de Goiânia. Ele usou referência da Art Dèco no colete que está sobreposto ao macacão jeans, trazendo as linhas retas e simétricas na cor amarela em alusão ao monumento. A criação denominada “Viés do Tempo” traz também o jeans que faz referência aos trabalhadores da década de 50, que usavam o tecido como uniforme o bordado com franjas douradas remete aos raios de sol que adentram o monumento.
Reforma
O jovem modelista e desenhista Lucas Caslu, 24 anos, é formado em design de moda e desenha desde os sete anos as próprias roupas. Ele inspirou a peça intitulada “Reforma” em alusão a fase de reforma que a Estação Ferroviária passou recentemente, com a representatividade dos tijolos e tintas nas mangas. Lucas usou cores fortes na composição como o azul e o vermelho que foram aplicados na blusa e na manga plissada bufante. As cores branca, cinza e amarela foram usadas para dar destaque a manga geométrica que representa a estrutura do monumento e materiais de construção.
Chegadas e partidas
Decidido em ser estilista desde os oito anos de idade, Alexandre Brito, 20 anos, idealizou sua peça inspirado na Maria Fumaça e trilhos do trem da Estação Ferroviária de Goiânia. Alexandre buscou inspiração na parte interior do monumento, onde acontecia toda a movimentação de chegadas e partidas. Sua criação denominada “Chegadas e partidas” traz duas peças, um vestido marrom com a parte inferior bufante na linha do quadril e um sobretudo jeans.