Proporção de doutores por habitante do município paulista é quase dez vezes maior que a nacional
Reconhecida nacionalmente como capital da ciência e tecnologia, São Carlos (SP) segue caminhando a passos largos para se manter no topo da pirâmide do conhecimento. Um novo estudo realizado pelo professor Hamilton Varela do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP mostra que, nos últimos sete anos, o município do interior paulista registrou um considerável aumento no número de profissionais com doutorado. Hoje, são mais de 2.530 doutores em uma cidade com aproximadamente 250 mil habitantes, o que representa um doutor para cada 100 moradores, média quase 10 vezes maior que a nacional.
“A cidade se tornou um grande polo de atração de pessoas capacitadas, elevando seu nível de trabalho. Nossas universidades e institutos de pesquisa estão consolidando cada vez mais suas atividades”, explica José Galizia Tundisi, secretário municipal de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação. A pesquisa considerou dados oficiais da USP; Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP – Campus São Carlos); Embrapa Instrumentação; Embrapa Pecuária Sudeste; Centro Universitário Central Paulista (Unicep); ParqTec, além de outros números colhidos pelo docente do IQSC, que atualmente é vice-diretor da Instituição.
Segundo Hamilton, uma das razões para a nova apuração foi a necessidade de atualizar os dados do município e informá-los à sociedade: “Em toda ocasião que precisávamos falar sobre São Carlos, tínhamos que recorrer ao levantamento feito em 2012”, afirma. Naquele ano, a cidade possuía 1,7 mil doutores, distribuídos em uma população de cerca de 230 mil habitantes. De acordo com Jorge Oishi, assessor estatístico da UFSCar e responsável pelo estudo na época, a relação no período era de um profissional com doutorado para cada 135 moradores, proporção 36% menor do que a encontrada hoje.
O vice-diretor do IQSC conta que, durante os sete anos sem novos levantamentos, São Carlos passou por mudanças significativas no universo científico e tecnológico, fato que o levou a desconfiar sobre o aumento de pesquisadores no município. “Nesse intervalo, houve a expansão de algumas unidades da USP, o fortalecimento das atividades de pesquisa na área 2 do Campus, bem como o crescimento de empresas da área de tecnologia na cidade”, conta o docente, que também é diretor executivo da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP).
Os resultados da pesquisa mostram que São Carlos tem conseguido driblar os sucessivos cortes orçamentários em C&T registrados no Brasil nos últimos anos. “A cidade sobrevive devido à qualidade de seus pesquisadores, conseguindo recursos quando eles são escassos. Para seguir fomentando o exercício da carreira acadêmica no município, é fundamental focar em projetos de impacto global que despertem o interesse público”, afirma Emanuel Carrilho, diretor do IQSC.
Para Sérgio Mascarenhas, um dos mais renomados cientistas do Brasil e responsável por estruturar importantes centros de pesquisa e inovação em São Carlos, o país demonstra certa preocupação com os custos e investimentos em ciência, mas se esquece de sua principal recompensa: “Esse novo estudo mostrou que o retorno dos investimentos foi em capital humano, o mais valioso elemento para o desenvolvimento de uma nação”, diz o pesquisador.
De acordo com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o número de pessoas com doutorado registrado na plataforma Lattes em novembro de 2016 era de 218.562. Desses profissionais, 61,5% atuavam na área de ensino e pesquisa e 38,5% trabalhavam como técnicos-administrativos. Considerando esses números e a atual população brasileira, que gira em torno de 209 milhões de habitantes, o país possui cerca de um doutor para cada 950 residentes.
Nos EUA, o município de Cambridge, famoso por sediar duas das maiores instituições de ensino e pesquisa do mundo, a Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), possui uma marca invejável: um doutor para cada 10 habitantes. Enquanto a cidade norte-americana se destaca no cenário científico mundial, São Carlos se firma como uma das principais referências do Brasil. Com tantos pesquisadores à disposição em um só lugar, se torna primordial aproveitar toda essa mão de obra especializada para elevar a qualidade de vida da população: “Devemos utilizar ciência e tecnologia na administração do município, na solução de problemas, de tal forma que o conhecimento acumulado na cidade esteja presente nas atividades diárias do cidadão”, finaliza Tundisi. (Henrique Fontes – Assessoria de Comunicação do IQSC/USP)