Em decreto publicado no dia 3 de fevereiro, deste ano, o governo de Goiás declarou situação de emergência em saúde pública depois que o estado atingiu, por quatro semanas epidemiológicas consecutivas, a taxa de incidência de casos suspeitos de dengue acima do limite definido no Plano de Contingência Estadual para Arboviroses.
No estado, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde – SES-GO, já foram notificados 39.748 casos, sendo 15.810 confirmados, somente neste ano. Em relação a outras doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti, foram confirmados 1.008 casos de chikungunya, e 61 casos de zika, sendo destes, quatro em gestantes.
Além de todas as medidas necessárias para conter os aumentos de infestações por estas doenças, que começam por medidas simples, como manter os ambientes limpos, livres de depósitos propícios para acúmulo de água parada, onde o mosquito deposita seus ovos, que se tornam larvas, e consequentemente mosquitos adultos. Ainda, tem se a campanha de vacinação em crianças que começou este mês.
Como a situação não está diferente em outras regiões do país, o governo federal também tem criando ações de combate a estas doenças, e é o primeiro país a ofertar vacinação contra a dengue no sistema público de saúde. Em Goiás, 134 municípios estão em campanha para realizar a imunização. Na capital do estado, são 72 pontos de vacinação distribuídos em todas as regiões da cidade para atender ao público-alvo durante a semana.
Para entender melhor sobre essa campanha que visa frear os aumentos nos casos da doença e possíveis internações, conversamos com a médica Dra. Bethânia de Oliveira, graduada pela Universidade Federal de Goiás, com residência em Infectologia no Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia, sendo também Coordenadora do Departamento de SCIRAS da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás – AHEG. Recentemente ela passou a integrar o Gabinete de Crise para Enfrentamento às Arboviroses, representando a associação.
Portal Patricia Finotti – Quais são os grupos prioritários para esta campanha de vacinação? Por que eles são considerados prioritários?
Dra. Bethânia de Oliveira – A campanha de vacinação contra a dengue foi iniciada para crianças de 10 e 11 anos de idade. Segundo o Ministério da Saúde, essa faixa foi inicialmente escolhida por contemplar o maior número de hospitalizações pela doença.
P.P.F – E como ficam os bebês, as grávidas e os idosos?
Dra. Bethânia de Oliveira – A vacina foi aprovada no Brasil para a faixa etária entre 4-60 anos de idade.
Trata-se de uma vacina de vírus vivo atenuado, e como as outras vacinas dessa mesma categoria, não é recomendada para grávidas e lactantes.
Como bebês, gestantes e idosos não podem se vacinar, devem manter as mesmas recomendações que existiram até esse momento, principalmente, como medidas individuais o uso de roupas que protejam e o uso de repelentes.
Segundo o Ministério da Saúde, essa faixa foi inicialmente escolhida por contemplar o maior número de hospitalizações pela doença.
P.P.F – Quantas doses da vacina são necessárias por pessoa? Qual o período entre as doses?
Dra. Bethânia de Oliveira – O esquema de vacinação é de duas doses, por via subcutânea, com intervalo de três meses.
P.P.F – Existe alguma contraindicação? Qual o risco da pessoa que tomar a vacina ter dengue?
Dra. Bethânia de Oliveira – A QDENGA é contraindicada nos casos de:
-Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer excipiente listado na seção composição ou hipersensibilidade à uma dose anterior de QDENGA;
-Indivíduos com imunodeficiência congênita ou adquirida, incluindo aqueles recebendo terapias imunossupressoras tais como quimioterapia ou altas doses de corticosteroides sistêmicos (p. ex., 20 mg/dia ou 2 mg/kg/dia de prednisona por duas semanas ou mais) dentro de quatro semanas anteriores à vacinação, assim como ocorre com outras vacinas vivas atenuadas.
-Indivíduos com infecção por HIV sintomática ou infecção por HIV assintomática quando acompanhada por evidência de função imunológica comprometida.
-Mulheres grávidas.
-Mulheres em período de amamentação.
P.P.F – Qual o tempo de imunidade garantido pela vacina?
Dra. Bethânia de Oliveira – A necessidade de dose de reforço ainda não foi estabelecida. Os estudos demonstram níveis persistentes de anticorpos para todos os sorotipos por até 51 meses.
É preciso também: acabar com os reservatórios do mosquito, evitar o acúmulo de lixo, entulho e água parada; cuidado com nossas casas e locais de trabalho e uso de roupas que possam proteger, além do uso de repelente.
P.P.F – Entre Qdenga e Dengvaxia, qual é a melhor opção?
Dra. Bethânia de Oliveira – Essa não é uma comparação feita para vacinas e medicamentos em geral. Cada caso precisa ser avaliado por um profissional médico qualificado, individualmente. Uma grande diferença entre as duas vacinas é que a Dengvaxia só pode ser administrada em pessoas que sabidamente já tiveram dengue comprovada laboratorialmente.
P.P.F – Enquanto a vacina não chega para todos, o que é preciso fazer para evitar a Dengue?
Dra. Bethânia de Oliveira – A vacina é um complemento, apenas um detalhe a mais em toda a cadeia que envolve a prevenção não só à dengue, mas também a todas as outras arboviroses (chikungunya e zica, por exemplo). É preciso também: acabar com os reservatórios do mosquito, evitar o acúmulo de lixo, entulho e água parada; cuidado com nossas casas e locais de trabalho e uso de roupas que possam proteger, além do uso de repelente.