Patricia Finotti

(crédito: Marilda Rodovalho)

Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar)

Pela enésima vez me deparo com ele. Singelo e belo poema de Fernando Pessoa, “Quando vier a primavera”, no charmoso sotaque do ator português Pedro Lamar.

Não sei bem porque me encanta. A verdade é que Pessoa nunca foi de meus poetas preferidos. Amo Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mário Quintana. É verdade que sempre gostei muito de uma frase de Fernando Pessoa, tornando-a mesmo uma espécie de mantra para minha vida: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Acredito realmente que as experiências são válidas se mantemos a mente aberta às possibilidades infinitas de aprendizagens, de lições que dali possamos extrair. Daí que, como sempre imaginei a vida como sendo uma escola pela qual passamos em busca de crescimento e sabedoria, qualquer experiência é bem-vinda, mesmo aquelas que possam parecer à primeira vista dolorosas e sem sentido; em tudo há uma lição. De qualquer forma, o que digo é que antes mesmo de saber que Fernando Pessoa era o responsável por tal verdade, já a fizera minha. Mas daí a me considerar uma fã?… Digamos antes, uma leitora casual.

De qualquer modo, desde a primeira vez que me deparei com esse poema, fui irremediavelmente tocada por ele e ouso dizer que, sem dúvida alguma, é hoje o meu poema favorito. Tem algo de profunda e serena beleza; uma verdade pura e simples que coloca a todos nós, seres humanos, em nossa mais profunda e real insignificância perante a exuberância que é a maravilhosa criação divina.

De forma singela e encantadora, o que ele diz é que a despeito de nós, o mundo continua, a vida continua; e é assim que deve ser. E por que não seria? Afinal, o quê somos senão uma ínfima parte de toda essa imensa e fantástica engrenagem que é o universo? Mesmo que tenhamos a pretensão de nos considerarmos os donos de tudo o que há no universo, donos mesmo do próprio universo, como se tudo o que foi criado por Deus tivesse a única e exclusiva função de nos servir.

Mas por mais que tenhamos a ilusão de sermos essenciais, especiais, insubstituíveis, merecedores de toda honra e glória, a verdade é que para o universo, para a natureza, nada somos. Talvez uma dor de cabeça que vai acabar desaparecendo mais cedo ou mais tarde; mais cedo se continuarmos a agir como idiotas.

Não sei se feliz ou infelizmente, não sinto arroubos de orgulho desmedido por fazer parte dessa tal raça humana que se propala tão inteligente e racional. Chego a pensar que um pouco menos de orgulho e talvez bem mais sensatez não nos fizessem mal. Afinal, nada mais somos que um bando de animais metidos a besta que se valendo de seu córtex cerebral desenvolvido e seus dedos em forma de pinça conseguiram dominar o planeta. O que certamente não lhes dá o direito de destruí-lo, já que o compartilham com bilhões de outras espécies. Mas, é só o que eu penso.

Então, para mim, conforta saber que tudo está como deve ser. Que a primavera virá, independente de minha vontade, mesmo que eu não esteja aqui para ver. As coisas são como devem ser, simples assim, sem complicações. Tudo está em seu lugar, que é como deve ser. O mundo, o tempo, a vida, permanecerão muito depois que eu me for. E outros virão e também partirão. 

Como diz Fernando Pessoa, é muito bom que tudo esteja certo, como deve ser. E se a primavera fosse amanhã e eu morresse hoje, morreria contente por saber que ela viria quando tinha que vir, no seu tempo.

Dá uma paz no coração saber que as coisas continuariam a ser do modo como deveriam, que nada mudaria apenas porque não estou mais aqui. Bom saber que o mundo continua. A vida continua.

Maravilhosa e bela, a vida!

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