Patricia Finotti

(crédito: Dani Tranchesi)

a4&holofote comunicação / Angelina Colicchio

Uma profunda ligação entre imagem e literatura é o ponto de partida de 3 é 5, a nova série da fotógrafa Dani Tranchesi, realizada no segundo semestre de 2020. A edição final das imagens privilegia as feiras dos bairros de Santa Cecília, Bixiga e Campos Elíseos em São Paulo. Mostra o mundo particular e universal dos personagens que vivem e trabalham nas feiras, suas histórias, suas memórias, o jogo entre claro e escuro e o mundo da oralidade diária onde a linguagem de cada um apresenta sempre uma surpresa para o visitante. Por isso o título é 3 é 5.

Depois de ser montada em São Paulo, em 2021, o projeto 3 é 5, composto por livro e exposição, chega ao Rio de Janeiro com expografia inédita assinada por ​​Diógenes Moura, criada especialmente para a galeria Nara Roesler, proporcionando ao público carioca uma experiência com novas cores e formatos, além da exibição do curta-metragem especialmente criado pelo cineasta Pedro Castelo Branco.

Durante a pandemia, as feiras livres foram alguns dos poucos lugares que não pararam de funcionar, quase como locais de resistência. Este fato, aliado ao fascínio que a fotógrafa nutre pelo tema, fez surgir o projeto 3 é 5, título que remete à fala usual dos feirantes, principalmente na hora da xepa, para atrair a atenção dos clientes.

Para Diógenes Moura, curador do projeto, a exposição e o livro mostram que a feira é um lugar de resistência, que consegue se manter viva diante de um mundo onde tudo se tornou online: “Tem um potente apelo visual, mudanças constantes de luz, personagens muito particulares, várias histórias, muitos detalhes, também alguns mistérios e segredos. Para a palavra e para a imagem, que é o universo ao qual me dedico como escritor e curador, a feira é um mundo muito próximo ao de uma ópera”.

A mostra traz ao público uma seleção de 30 imagens que, além de documentar os processos de montagem e desmontagem de uma feira livre, colocam em primeiro plano seus diversos personagens, figuras humanas que assumem os papéis de feirantes, fregueses, em sua constante, frenética e caótica movimentação.

O livro 3 é 5 (Vento Leste Editora), com imagens que compõem a mostra, é organizado a partir de três momentos. No primeiro, começando com a feira ainda na madrugada, sem a presença dos fregueses, constrói-se o cenário da narrativa, com elementos da montagem das barracas, o amanhecer e a preparação para o que está por vir. No segundo, os feirantes se tornam protagonistas ao posarem em um estúdio improvisado em certos pontos da feira. “É quando eles se revelam para além da dureza do trabalho cotidiano, virando atores de uma ópera encenada ao acaso. É uma maneira de torná-los existentes para além da resistência intrínseca da atividade que exercem”, explica Dani Tranchesi.

A terceira e última parte da publicação traz um material extra, com registros dos fotogramas do curta-metragem do cineasta Pedro Castelo Branco, imagens em preto e branco que fogem ao habitual making of e se revelam uma obra complementar e distinta do livro. O curta foi premiado com a melhor montagem no Festival Comunicurtas da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande.

O filme, revelado em preto e branco, conta com uma trilha sonora orgânica, reunindo desde composições clássicas de Johannes Brahms à música tradicional nordestina do Quinteto Armorial, tendo o Cinema Direto como linha de narrativa. O filme expõe o ofício de um feirante que precisa trabalhar em meio a uma pandemia, mas sempre com bom humor, mostrando suas relações com os fregueses e falas tão peculiares. “Minha intenção, desde o começo, foi de captar a atmosfera da feira, fazendo com que o espectador se sinta parte daquele espaço caótico e cativante”, explica o diretor.

Cinco textos que o curador Diógenes Moura realizou para o projeto – A Ópera, Os Olhos, O Beijo, O Plural e Os Nomes – poderão ser acessados pelos visitantes, via QR codes.

Sobre Dani Tranchesi

Dani Tranchesi trabalha entre o limite do que lhe pertence e do que pertence ao ‘outro’, entre o que pode ser considerado comum e o que chamamos de inusitado: coisas simples, gestos mansos, a vida cotidiana descansando no percurso do tempo. Sua pesquisa imagética é sempre um caminho para descobertas e experimentações: dos recursos formais da fotografia digital às sobreposições, colagens, achatamentos, recortes, suas imagens estão sempre diante de uma busca incessante para entender o limite entre “ver” e “enxergar”.

Seu projeto mais recente 3 é 5 mostra o dia a dia das feiras públicas em São Paulo, do ponto de vista do trabalhador; a grande ópera pública que é a montagem, o fluxo dos fregueses, a desmontagem e o “idioma” utilizado pelos feirantes. Esse trabalho segue o percurso de pesquisa da fotógrafa, que teve início em 2019, ao lado do escritor, curador e editor Diógenes Moura e terá exposição e lançamento do livro (Vento Leste Editora) no Espaço 41, em agosto de 2021.

Entre setembro e dezembro de 2021 participou da exposição Terra em Transe, no Museu Afro Brasil, com a série Mundo Paralelo. A mostra tem curadoria do escritor Diógenes Moura, reúne 600 imagens de 60 fotógrafos brasileiros e será a grande exposição que irá inaugurar o Centro Cultural do Crato, no Cariri, Ceará, em março próximo.

Em julho de 2021 fez parte do grupo de 30 fotógrafos que representaram o Brasil no Les Encontres de La Photographie, em Arles, na França, dentro do projeto Rituais Fotográficos – Rituais de Resistência, realizado pelo Iandé Photographie e Photo Doc, de Paris.

LINDO SONHO DELIRANTE, projeto realizado entre 2019 e 2020, teve exposição e lançamento do livro homônimo na Galeria Estação e reúne imagens produzidas em São Paulo e na Ilha do Marajó, entre 2018 e 2019. Trata de humanidades ao reunir o homem urbano, com

seus dias entre a fuligem e o asfalto e os habitantes das águas doces, sempre dispostos a contar as estrelas.

Dani Tranchesi estudou Comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing e Fotografia na Escola Panamericana de Arte e participou de coletivas e individuais, entre elas, Cuba Antes dos Stones e Caixa Clara.

Sobre Diógenes Moura

Nascido em Recife, Pernambuco, atualmente vive e trabalha em São Paulo. É escritor, curador de fotografia, roteirista e editor independente. Em 2020, realizou O Olhar Não Vê, O Olhar Enxerga e Não Danifique os Sinais, mostras de longa duração a partir do acervo do Museu da Fotografia de Fortaleza. Nesse mesmo ano, foi curador e editor da exposição e livro Lindo Sonho Delirante, da fotógrafa Dani Tranchesi, realizada na Galeria Estação. Em 2018, fez a pesquisa e curadoria de Terra em Transe (concebida especialmente para o Solar Foto Festival, Fortaleza, CE, 2018/2019), exposição com cerca de 500 imagens de 55 fotógrafos brasileiros. Foi curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1999 e 2013. E, como curador de fotografia, recebeu quatro prêmios da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).

Serviço:

Exposição 3 é 5, fotografias de Dani Tranchesi

Abertura: 02 de fevereiro, das 17 horas às 20 horas

Período expositivo: de 02 de fevereiro a 02 de março 

Local: Galeria Nara Roesler 

Endereço: R. Redentor, 241 – Ipanema, Rio de Janeiro – RJ

Horário de visitação: de terça-feira a sábado, das 10h às 19h
Entrada franca

Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

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